Na loja da Apple na Quinta Avenida, em Nova York, a fila j est formada. Comeam a surgir boatos sobre aparies do aparelho, nas mos de alguns poucos privilegiados, e h fotos na Internet para comprov-los. Os rumores revelam que os carregamentos esto chegando na calada da noite, escoltados por seguranas armados.
E tudo isso por um celular. Steve Jobs, conhecido por sua capacidade quase mgica de marketing, aparentemente convenceu milhares de pessoas de que o Apple iPhone no um celular comum. Mas mesmo as pessoas j acostumadas aos bem orquestrados lanamentos de produtos que o lder da Apple comanda esto espantadas diante do frisson de antecipao que ele conseguiu gerar desta vez.
De acordo com uma estimativa, dois teros da populao dos Estados Unidos parecem saber da existncia do aparelho, que combina um celular a um iPod e propicia o Internet. Ele enfim entrar em venda s 18h da sexta-feira, mas apenas para quem se disp a esperar em filas cujo comprimento deve chegar casa dos quarteires. Os analistas de Wall Street antecipam que a Apple e sua parceira, AT&T, vendam cerca de trs milhes de aparelhos em prazo de poucas semanas.
" uma operao conduzida com maestria, se consideramos bem", disse Jeremy Horwitz, editor chefe do site iLounge, que atende aos usurios do iPod e da loja de msica online iTunes. "Pergunte-se quantas empresas conseguiriam anunciar um produto com seis meses de antecedncia e no s sustentar o interesse do pblico mas at causar frenesi. Eu estou espantado". Os rumores e histeria anteriores ao lanamento de um produto no so novidade, claro. Basta perguntar a qualquer adulto que seja f dedicado de Guerra nas Estrelas ou a qualquer moleque de 12 anos que cultue os livros de Harry Potter. No ano ado, os adeptos do videogame dormiram na calada, diante das lojas da Sony, para serem os primeiros a adquirir o novo console PlayStation 3. Mas desde que a Apple informou pela primeira vez ao mundo sobre o computador Macintosh, em 1984, com um comercial no Super Bowl, a empresa se tornou a lder em termos de alardear lanamentos de bens eletrnicos de consumo.
Trent Lapinski, 20 anos, designer de Internet da Califrnia, ou horas pesquisando sistematicamente a melhor loja para comprar o seu iPhone. No final da semana ada, ele foi a quatro lojas da AT&T e da Apple, em busca de alguma vantagem.
Um funcionrio de uma loja da AT&T o informou sobre outra loja da empresa, escondida em um conjunto habitacional para o qual ningum ainda havia se mudado. "Eles me disseram que era provvel que no houvesse ningum l, e por isso talvez eu arrisque", disse.
Ismail Elshareef, engenheiro de software em Los Angeles, est equipado - saco de dormir, tenda, cadeira de acampamento, camiseta, moletom, drops para tirar o mau hlito e um romance de Chuch Palahniuk - e j desenvolveu uma estratgia. No sbado, ele trocou de operadora, substituindo a T-Mobile pela AT&T, e planeja ir a uma loja da Apple em um shopping center prximo de sua casa, na quarta-feira noite. Caso haja uma fila, ele ficar por l. Se no, voltar s cinco da manh de quinta.
O iPhone est chegando acompanhado pelo segredo que uma tradio da Apple. Os funcionrios das 164 lojas Apple e das 1,8 mil lojas AT&T Wireless que vendero o aparelho foram treinados quanto ao seu uso esta semana, mas no foram informados sobre os detalhes. At tera-feira, eles nem sabiam ligar o aparelho ou tinham informaes sobre os contratos de servio de telefonia que a AT&T ofereceria aos usurios.
A um preo de US$ 500 ou US$ 600, a depender da quantidade de memria, o aparelho de 135 gramas caro, no importa que padro de avaliao adotemos. E as primeiras crticas no so unnimes. Mas nada disso deve conter o entusiasmo daqueles que j esto decididos.
Jessica Rodriguez, 24 anos, aluna do Boricua College, em Nova York, ocupava a quarta posio na fila diante da loja da Apple na Quinta Avenida, s 10h de tera-feira. Rodriguez parecia mais interessada no evento do que no aparelho em si. Disse que planejava comprar o iPhone como presente de aniversrio para a irm, mas que compraria um para ela, tambm, se puder adquirir mais de um.
Ann Switzer, artista que vive em Larkspur, Califrnia, logo ao norte de San Francisco, estava diante da loja da Apple na vizinha Corte Madera, e parecia hipnotizada pelo vdeo que o telo repetia sem parar.
Switzer disse que sabia que deveria esperar alguns meses, "para ter certeza de que o iPhone ser tudo que a Apple promete", mas mal pronunciou essas palavras, conta, descobriu que a emoo era mais importante que o aspecto prtico. "Ai, meu Deus, eu adoraria ter um desses". Para os consumidores que no podem ou no querem esperar em fila, o site de classificados Craig's List traz dezenas de ofertas, em todo o pas, de pessoas dispostas a guardar um lugar. Elas se oferecem para chegar s lojas um dia antes do prazo, e em geral cobram US$ 250 pelos seus servios.
Poucas horas depois de postar sua oferta de espera diante da loja da Apple em San Francisco, ao preo de US$ 300, o engenheiro de Internet Daniel Roberts, 27 anos, disse que recebeu respostas de trs interessados.
E o que as pessoas acham que vai acontecer s 18h de sexta-feira? "Vai ser como a maior liquidao de sutis do mundo na Macy's - gente gritando, empurrando, uivando", disse um executivo de publicidade que j atendeu a conta da Apple. "Depois, todo mundo que conseguir comprar um aparelho vai se comportar como um viciado em herona depois de um pico, todos sentados l, placidamente, acariciando seus iPhones".
Traduo: Paulo Eduardo Migliacci ME
Fonte: The New York Times
Data: 27/06/2007
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Fs do iPhone fazem fila espera da novidade